Temos na nossa família um histórico de dependentes químicos. Digo, temos na nossa família uma linhagem inquebrável de dependentes químicos. Tia Fulana, que esqueci o nome, tinha uma mãe drogada. Depois disso tia Fulana se viciou em drogas e álcool, casou e teve duas filhas. As duas filhas, Bianca e Rita, também se viciaram em drogas e álcool. Renata morreu há treze anos, assassinada por traficantes - seu corpo nunca foi encontrado. E não é para causar bafão não, mas a nossa família bem suspeita do goleiro Bruno. E Rita, após alguns anos desaparecida (tudo porque resolveu viver nas ruas usando crack e livre da obrigação de tomar banho), está mais ou menos reabilitada. Com mais ou menos quero dizer que ela largou as drogas, mas não larga o álcool má-é nunca mermo. Conta prima Mari que todo mundo na família diz que Rita é piranha, só porque ela dá para todo mundo. Ela não nega que dê para todos, mas nega o fato de ser piranha. O Marido de Rita (porque sim, ela é casada), depois de muitos anos sendo corno e depois de levar na cara algumas vezes (porque sim, ela é agressiva), resolveu pular fora. E não pense você que ele pulou fora por causa de chifre. O motivo foi outro: Rita, no meio de uma discussão boba, decidiu que não queria perder tempo gritando e enfiou logo um facão no braço dele, só para ver se ele calava logo aquela boca. Até aí, nesse babado de separação, tudo estaria tranquilão, se Rita não tivesse tido duas filhas com ele (que ficaram chocadas com a cena do facão e saíram de casa gritando os vizinhos, com os cabelos cheios de sangue) ou se Rita tivesse alguma paciência com crianças.
Mari, minha prima - que mora com meus avós e a mãe na mesma casa, sempre me conta tudo que acontece na família. Ela é vizinha de Rita, que é vizinha de tia Gloria, que é vizinha de tia Beth. Ou seja, é um terreno só e todo mundo tem seu barraquinho nele, ou um puxadinho, como é o caso da minha prima Mari, que mora num puxadinho com a mãe, na casa de Vovó. E tudo isso no morro do Mato Grosso, em Niterói.
Eu juro.
As duas filhas de Rita, Martinha e Luana, são opostos. Martinha, 8 anos, é extremamente doce e calma. Luana, de 11, rebelde e revoltada, embora fofa. Há uns dois meses atrás chegou aos meus ouvidos, via Mari, que Rita havia tentado matar a filha mais nova, Martinha. Rita negou a tentativa de assassinato e alegou estar apenas aplicando uma correção violenta na menina, que havia esquecido de fazer um trabalho da escola.
... Era uma vez, a linda Princesa Rita chegando em casa bêbada e sabendo que sua filha havia levado uma nota zero na escola. O que a Princesa Rita fez?
a) Deu umas chineladas?
Não.
b) Deu com a vassoura na cabeça da menina, tipo ela tinha feito ano passado?
Não.
c) Pegou a menina pelos cabelos e tacou a cabeça dela na parede, tipo no aniversario de sete anos da garota?
Não.
Rita, com as forças do braço, desgrudou o vaso sanitário recém colocado do chão e jogou com todas as forças em cima de Martinha, que só se salvou porque rapidamente desviou à tempo de só machucar as pernas e quebrar a mão.
Mas de uns tempos para cá, Rita, com isso de separação, tem tido uns dias mais descontraídos por aí e não tem dado muita bola para as crianças não. Nessas todos pensam que a fofa da Martinha pode correr aliviada por aí - brincando de amarelinha e saltitando com sua única boneca, esvoaçando seus cabelos afros. Quem dera. O ultimo babado, lá no quintal conjugado da família, dá conta de que Martinha foi vista só de calcinha, com lagrimas nos olhos, gritando por socorro, enquanto corria da irmã... que estava tentando acertar a cabeça dela com um pedregulho. Daí parece que a mãe chegou em casa e ainda deu uns tapas em Martinha, tudo porque ela não tinha nada que estar correndo só de calcinha no quintal.
- Você é uma mocinha. Tinha que ter vergonha na cara.
E meteu a mão na cara de Marta.
Gente, disquem 1-9-0. Vamos salvar Martinha.
Boa noite e
Saludos Cordiales
Saludos Cordiales
* ps: esqueci de comentar que Martinha é fanha.